Zênit
Este ideal de fidelidade conjugal nunca foi fácil (adultério é uma palavra que ressoa sinistramente até na Bíblia); mas hoje a cultura permissiva e hedonista na qual vivemos o tornou imensamente mais difícil. A alarmante crise que a instituição do matrimônio atravessa em nossa sociedade está à vista de todos. Legislações civis, como a do governo espanhol, que permitem (e indiretamente, de tal forma, estimulam!) iniciar os trâmites de divórcio apenas poucos meses depois de vida em comum. Palavras como: «estou farto desta vida», «se é assim, cada um por si!», «vou embora», já se pronunciam entre cônjuges diante da primeira dificuldade (dito seja de passagem: creio que um cônjuge cristão deveria acusar-se em confissão do simples fato de ter pronunciado uma destas palavras, porque o simples fato de dizer é uma ofensa à unidade e constitui um perigoso precedente psicológico).
O matrimônio sofre nisso a mentalidade comum do «usar e jogar fora». Se um aparelho ou uma ferramenta sofre algum dano ou uma pequena avaria, não se pensa em repará-lo (desapareceram já aqueles que tinham estes ofícios), pensa-se só em substituir. Aplicada ao matrimônio, esta mentalidade resulta mortífera. O que se pode fazer para conter esta tendência, causa de tanto mal para a sociedade e de tanta tristeza para os filhos? Tenho uma sugestão: redescobrir a arte do remendo! Substituir a mentalidade do «usar e jogar fora» pela do «usar e remendar». Quase ninguém faz remendos mais. Mas se não se fazem já na roupa, deve-se praticar esta arte do remendo no matrimônio. Remendar os desgarrões. E remendá-los rapidamente.
São Paulo dava ótimos conselhos ao respeito: «Se vos irais, não pequeis; não se ponha o sol enquanto estejais irados, nem deis ocasião ao Diabo», «suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente se algum tem queixa contra outro», «ajudai-vos mutuamente a levar vossas cargas» (Ef 4, 26-27; Col 3, 13; Ga 6, 2). O importante que se deve entender é que neste processo de desgarrões e recosidos, de crises e superações, o matrimônio não se gasta, mas se afina e melhora. Percebo uma analogia entre o processo que leva a um matrimônio exitoso e o que leva à santidade. Em seu caminho rumo à perfeição, nenhum impulso, tem aridez estão vazios, fazem tudo à força de vontade e com fadiga. Depois desta, chega a «noite escura do espírito», na qual não entra em crise só o sentimento, mas também a inteligência e a vontade. Chega-se a duvidar de que se esteja no caminho adequado, se é que acaso não foi tudo um erro, escuridão completa, tentações sem fim. Segue-se adiante só por fé.
Então tudo se acaba? Ao contrário! Tudo isto não era senão purificação. Depois de passar por estas crises, os santos percebem quão mais profundo e mais desinteressado é agora seu amor a Deus, com relação ao do começo. A muitos casais não será custoso reconhecer nisso sua própria experiência. Também terão atravessado freqüentemente, em seu matrimônio, a noite dos sentidos, na qual falta todo êxtase daqueles, e se alguma vez houve, é só uma lembrança do passado. Alguns conhecem também a noite do espírito, o estado em que entra em crise até a opção de fundo e parece que não se tem já nada em comum.
Se com boa vontade e a ajuda de alguém se conseguem superar estas crises, percebe-se até que ponto o impulso e o entusiasmo dos primeiros dias era pouca coisa, com relação ao amor estável e a comunhão amadurecidos nos anos. Se primeiro o esposo e a esposa se amavam pela satisfação que isso lhes procurava, hoje talvez se amam um pouco mais com um amor de ternura, livre de egoísmo e capaz de compaixão; amam-se pelas coisas que passaram e sofreram juntos.
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