sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Vestido de Noiva



(Por Maria Emmir Oquendo Nogueira, Co-fundadora da Comunidade Catolica Shalom)


Não! Este artigo não trata da famosa peça de Nelson Rodrigues com o mesmo nome. Pelo contrário. Falo de outro vestido, de outra noiva, de outra mentalidade. Falo de uma foto. Em primeiro plano, a noiva. Vestido simples, sem bordados. Grinalda simples e longa. Bouquet simples, poucas flores, todas brancas. Maquiagem imperceptível. Incrivelmente bonita, já que, não fosse por sua expressão de alegria interior, seria uma pessoa feia. Sorriso imenso, feliz, tem o braço direito estendido um pouco ao alto, como a mostrar o bouquet. Sob o vestido, quase sem querer, aparece o pé esquerdo, a denunciar um gesto meio de dança, meio de brincadeira, como quem está a fazer uma reverência. Isso mesmo. Foi uma foto espontânea, não posada.
Em segundo plano, um garoto. Daqueles simples, talvez um convidado intruso. Meio de costas para a noiva, parece que só está ali para denunciar: é verão! Mangas curtas, calças curtas, pernas inteiramente desnudas. Não há dúvida, é verão. O menino cumpriu sua missão. Aparece ali não porque é pajem, irmão, padrinho ou convidado. Aparece somente para dizer: “Vejam, é verão!”
Você há de se estar perguntando: e o que seria tão importante acerca do verão para justificar uma missão especial para o intrometido? É que a noiva, em primeiro plano, sim, a noiva da foto - pasme! – está de mangas (sim, seu vestido tem duas mangas!) compridas. Daquelas que vêm até o pulso. E veja que não são transparentes. O decote – pasme, novamente – é rente ao pescoço. Tudo é tão especialmente diferente do que hoje chamamos de noiva que cada detalhe chama atenção. O maior dos detalhes, porém, transcende a foto: a noiva da foto é uma santa. Santa Gianna, recém casada com o seu Pietro, a sonhar, alegremente, com os seus quatro tesouros que haveriam de vir.
Ao contemplar esta foto, meus pensamentos vieram como uma onda após a outra. Primeiro: “Puxa, como ela primou pela exaltação da castidade, da virgindade!” Segundo: “Ela´já´ era santa!” (como se santos se fizessem em um estalar de dedos). Terceiro: “Já pensou se o vestido dela fosse sem mangas, sem ombros, sem nada acima da linha dos seios, sem exaltar a castidade? Já pensou se as costas fossem nuas até a cintura, a maquiagem carregada, a grinalda como a coroa da rainha de Sabá? Já pensou se o vestido fosse um brilho só, se o bouquet lhe fosse até os pés? Como é que a gente ia ter coragem de mostrar o retrato da santa?” Quarto: “Bom, a gente ia dizer que ela tinha se convertido depois e que só depois tinha aderido à castidade”. Quinto: “Valha-me Deus, como foi meu vestido de noiva?”
Pois é. A santa, vestida de noiva, exaltava a castidade em seu vestido de mangas compridas apesar do pleno verão italiano. Exaltava aí e exaltaria depois, durante toda a sua vida de casada, como se vê pelas cartas que troca com o seu Pietro. Esta santa não diria que no quarto do casal, entre quatro paredes, tudo é permitido. Esta, não pensaria em transformar seu leito conjugal em um leito de motel. Não pensaria em usar roupas íntimas pornô para excitar o seu Pedro. Não pensaria em preservativos ou comprimidos anti-concepcionais. Não pensaria em laqueadura de trompas aquela que não pensou em retirar seu feto para livrar seu útero.
Posso estar errada. Mas hoje, quando vejo as noivas desnudas, maquiadas como atrizes de tv, a arrastar seus caríssimos e quilométricos bouquets, a se esbaldarem de beber em suas festas de casamento, não posso deixar de pensar o que consideram castidade conjugal, em que seriam capazes de transformar seus leitos, suas alcovas conjugais, como se dizia antigamente. Não posso deixar de me perguntar em que estariam dispostas a transformar suas famílias, seus corpos e os corpos dos seus maridos. Não estou certa de que conotação dariam a este possessivo “seu”: “seu” marido, “seu” leito, “seu” quarto, “seu” filho. Temo que, distorcidas as idéias, viriam a dizer que, sendo seu o corpo e seu o filho, sendo seu o leito e seu o marido, podem dispor deles como bem quiserem. E isso seria o avesso do vestido da noiva da foto e de tudo o que, canonizando-a, a Igreja nos quer dizer.

Um comentário:

  1. Basta dizer que é Emmir que escreveu para saber que vale a pena... Porém, como ela andei pensando nesse assunto outro dia, é sempre a velha questão da sobriedade que precisamos sempre mais aprofundar para chegar na medida certa, é a pobreza o abandono de si e de tudo o que possui nas Mãos de Deus, não de forma desleixada como se fosse um mero andandonar, mais sim uma cofiança positiva e responsavel da própria vida e da família para um caminho reto e integro de santidade. Que Santa Giana nos ensine a sermos homens e mulheres cada vez mais castos, ou seja, cada vez mais santos e mais felizes.Shalom!

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